Há algum tempo, vem circulando nas
redes sociais a pergunta “você quer ser feliz ou ter razão?”. De tanto ler isso, fui procurar saber sua
origem, quem escreveu sete palavras que tocaram tantas pessoas, e acabei por
descobrir que trata-se de uma historieta contada por Ana Maria Braga, em seu
programa, que reza sobre uma esposa que cede à insistência errônea de seu
marido em percorrer um caminho, enquanto dirige. Entre a rua à esquerda, que
ela indica, ele insiste que é à direita. Mediante a aparente irritação do
marido, ela se cala, deixa ele escolher o caminho e, ao constatar seu erro, o
marido questiona a esposa sobre ela não ter insistido, já que a mesma estava
correta. Dizendo perceber a iminência de uma discussão e a possível perda da
noite, ela responde que prefere ser feliz a ter razão.
Há realmente uma fórmula para um relacionamento dar certo?
Por favor, se algum desavisado ler isso, gentileza postar a receita. Livre-se
da ideia egoísta de ganhar dinheiro com esse segredo e partilhe conosco.
Estamos desesperados por dias tranquilos junto à pessoa amada. A humanidade
clama por essa caridade!
Lance: uma galera adora uma leitura de autoajuda, estórias
que têm, por trás de suas linhas (bem por trás mesmo!), uma lição, uma
reflexão, um estalar que dispare a autoconsciência de um comportamento danoso.
Será que precisamos de histórias para nos enxergamos como protagonistas de
nossas próprias vidas? Essa é minha pergunta.
Olhar para si deveria ser rotina. Somos cheios de respostas
para os problemas alheios, somos os melhores técnicos de futebol para escalar a
seleção brasileira que perdeu o jogo; somos os novelistas do perfeito final das
tramas televisivas; somos o herói vencedor do Big Brother Brasil que
injustamente não foi escolhido para entrar na casa e que tem plenas as
qualidades comportamentais para lidar com todos e vencer o programa; somos o
amigo, que se fosse o namorado daquela menina, faríamos isso ou aquilo e não
deixaríamos ela sambar no nosso coração. Somos mesmo?
Há alguns anos, descobri que somente amor não é suficiente
para sustentar uma relação. Me desculpem os românticos (lá vêm as pedras!), mas
um relacionamento requer um conjunto de atitudes, incluindo o respeito e a
admiração, que são o lastro sobre qual se ergue o amor. “E quem ama não respeita?”
(Sabia que você ia perguntar isso!) Não necessariamente... Por vezes o amor é
imaturo, urgente, possessivo, inconsequente, incompreensivo nas limitações do
outro (reconheceu-se em algum deles?). Não há amor sem a aceitação do todo, das
partes boas e ruins do próximo. “E quem ama não aceita o outro como ele é?”
(sabia que você ia perguntar isso também!) Lembre-se que a gente sempre tem
aquele quê de insatisfação sobre o outro, que desaba cheio de “se”: se ele ou
ela fosse mais carinhoso ou carinhosa (daqui por diante, adapte os gêneros), se
ele fosse menos cachorro, se ele não bebesse tanto, se não desse tanto mole
geral, se fosse menos teimoso, se, se, se, se, se... (Se reconheceu
novamente?). O fato é que, se seu pai tivesse nascido mulher, você teria duas mães!
Mas voltando ao que me trouxe a esse post, confesso que a
primeira vez que me deparei com tal citação, até fiquei tocado, porém de tanto
lê-la (de maneira forçosa, por tanta gente postar), eu tenho uma interpretação
diferente. Você pode indagar se há outra, senão a moral de quanto desgaste que
existe em mostrar, esbravejar, defender a posição de detentor da razão, e eu
respondo que há, pelo menos, uma versão
menos fabulosa da situação e mais próxima da realidade, quiçá até mais
humorada, pois às vezes a gente tem que rir para não chorar. Acho que ela já
estava cansada de discutir com o marido cabeça-dura e deixou ele quebrar a
cara, para poder ser feliz: rindo da cara dele.
Bom humor à parte, fica a ponderação sobre essa passagem: ceder sempre também
não é uma boa estratégia. Declinar da razão de forma excessiva pode ser igualmente
danoso e trazer uma constante posição de passividade e submissão. Infelizmente,
na prática, os amores não são tão românticos e torna-se necessária uma
criticidade por sobre a temática. Eu mesmo conheço muitas pessoas que preferiram,
por muito tempo, serem felizes a terem razão e, pasmem, cansaram de ser felizes...
Como dizem nas redes sociais: #ficaadica.
Angelo Augusto Paula