sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Palavras roubadas



Eu sei que você me lê
Mesmo que eu embaralhe todas as letras
Mude a ordem das minhas páginas
Me vire de cabeça para baixo
Ainda assim
Sei que você me lê

Você enxerga
A maioria das minhas páginas em branco
As que estão escritas erradas
E as que você pode ajudar a corrigir

E me disseram
Que ser esse tipo de leitor
Pode ser amor...

Angelo Augusto Paula do Nascimento

sábado, 21 de janeiro de 2012

Procura-se




Eu não sei quem inventou o amor
Nem se foi criado
Se foi moda
Se foi capricho
Ou mesmo maldade
Ou experimento de terror

Eu não sei
E se duvidas
Procura no Google
Na Barsa
Ou no Wikipedia

Esse infeliz
Que palhaça nossas vidas
Brinca sem graça com nossa cara
E tem um tal cupido
Que leva a culpa da entrega do embrulho
Ô, menino estúpido

Eu não sei quem inventou o amor
Mas vou colocar no Messenger
O anúncio de uma recompensa:
Mata esse fulano
Esse doidivanas insano
Pago mil reais
Pelo corpo e estupor

Mas caso todos falhem
Façam-me um favor
Arranjem um culpado
Desses que não vai saber
Nem o que o acertou
Meu coração, coitado
Pede vingança
Se lascou.

Angelo A. P. Nascimento

domingo, 8 de janeiro de 2012

Travessia



Eu atravessei tantos lugares
Busquei as histórias certas
Eu subi uma montanha
Para te alcançar
Mas de onde estou eu vejo
Sua vida
Essa ironia que intranquila desliza
Distante passar

Sei que preciso dizer
É muito difícil deixar o amor ficar
Aos poucos congelamos os dois
E percebo
Que derreto os restos de sentimentos
A cada vez que o sol se levanta

Já não posso continuar
Sentado aqui em cima
Com pássaros que me rodeiam
Que cantam novidades suas
Ao meu coração
Tonto de pulsar

E serei sempre qualquer música triste
A estranheza que lhe visita
A mão que não lhe alcança
Serei o que for
Serei o seu desamor

Angelo Augusto Paula do Nascimento

domingo, 1 de janeiro de 2012

O canto do galo de primeiro de janeiro




E cantou o galo de primeiro de janeiro! Após fogos, sustos, risos, lágrimas, ondas puladas, lá vem o galo, o demarcador do outro dia, da renovação. Não importa a sua festa, seus gritos reberverantes, seus desejos de ir ou ficar, seus sonhos flutuantes, o ano novo chega com aquela graça de quem recolhe um recém-nascido no colo.
Quem seremos em 2012? Prometemo-nos um novo ser, um reformulado ser humano. Embriagados de esperanças: isso, sim, somos ao canto do galo. Quebraremos tantas promessas, cumpriremos algumas outras; seremos felizes uns dias; noutros nem tanto, mas estaremos lá, cumprindo cada dia do ano que se inicia, até que ele fique maduro e envelheça, dando espaço para mais um outro ano novo, para mais um canto de galo.
A hora, meus caros, de ser feliz é sempre agora. O melhor beijo é sempre aquele último que foi dado; o melhor abraço é aquele irrecuperável. Se deixarmos de procurar incessantemente por sermos felizes, poderíamos nos divertir um bocado e o ano novo, sempre novo, seria uma renovação constante dos votos de viver feliz. A vida cheia de possibilidades...
Recordo-me de um texto que escrevi em outros anos, cheio dos bons desejos. Deixo-o para vocês:

Que no ano novo,
Toda vez que dançarmos, sejamos luz
Todo e qualquer erro dentro de nós seja verdadeiramente perdoado
Que a estrada siga sempre como se fosse reta
Que os sonhos tenham aquela sensação sólida
Que as realizações sejam cada vez mais próximas
Que nossas atitudes sejam cada vez mais fiéis aos nossos corações
Que sempre saibamos valorizar o sentimento de quem nos cuida e ama
Que nenhum arrependimento machuque tanto a alma
Que nenhum orgulho nos separe do mundo, por cercas ou por muros
Que a gente tenha a coragem para dizer e fazer o que tiver de ser
Que nenhuma luta seja tão árdua ou tão fácil
Que nenhum amigo querido precise morar fora
Que nenhuma lua seja coberta por nuvem
Que nenhum momento romântico se atrapalhe por chuva
Que todos os jantares sejam à luz de velas, mesmo sem elas
Que nenhuma mão se desenlace
Que nenhum passado te atrapalhe
Que nenhum futuro te dê medo
E que “até nos vermos de novo, Deus te guarde na palma de sua mão”.

Feliz ano novo! E se não houver amanhã, o hoje já me fez feliz!

Angelo Augusto Paula do Nascimento

De braços bem abertos



Aguardo o passar de tudo
Chuva e sol
O barulho diurno
A quietude da noite
A grama que germina
A velocidade das bicicletas
A sua nova vida

Enquanto isso
Todas as coisas
Os móveis
Os livros
Os discos
Recitam o que deliro

Vez ou outra
Eu choro com seu nome entre os dentes
E insisto em não fechar os braços
Para não apertar a própria dor

São meus soluços que embaçam
O vidro das janelas
São minhas pernas
Colunas dormentes e estáticas
Que sustentam a minha apatia
Mas mesmo assim
Espero tudo que me for certo
De braços bem abertos.

Angelo Augusto Paula do Nascimento
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