sexta-feira, 29 de julho de 2011

Se faltar carinho

Se faltar carinho
Lembra que eu existo
Que não são tão distantes
Meus dedos dos seus cabelos

Se tudo parecer difícil
Enquanto que vivemos isso
Lembra das pernas
Que mal alcançavam o chão
Do amor que nos sustentava

Mas se faltar algo mais
Se faltar a paz
Se houver desatino
Lembra que sou eu seu menino
E que palavras não vão consertar
O que um dia quebrou
Mas abraços são mais que fatos
E eu posso tentar
Pelo incerto tato

Essa poesia
É só para amainar
O vento frio
Que bate no rosto pra secar
Você sabe bem onde dói
Você sabe bem onde está
Não inventa, meu bem
De nos abandonar

E será apenas mais um beijo
Para provar
Por que a saudade maltrata
E não nos deixa descansar
E vivemos sem graça
Pois se lhe perdi pro mundo
Está na hora de regressar

E nada do que diga
Talvez possa mudar
Mas só dizendo
Para saber
Se serão flores que irão brotar
E a coragem e o medo
Fazem parte do mesmo consentimento

Olha, que tarde
Olha a noite que invade
E as madrugadas que viram dias
E dias que viram sem te tocar

Ah, meu o quê não sei
São essas luzes
Essa exposição
Essa decisão
Esse debruço na janela
Essa música
Que você escolheu
Para lembrar de me rejeitar

Nada sai assim tão grave
Às vezes só quero me encostar
E mesmo sabendo
Onde vai parar
Faça o favor de achar o certo de me matar
De perder a hora
De me desalocar
Acho que tudo acato
Se o que for dito for preciso
E é tão bonito
Dizer o que for sentido

Apenas feche o ciclo
E deixe-me partir
Deixe-me desamar
Embora sei que hei de falhar
Aceito...


Angelo A. P. Nascimento

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Eu tenho tanto que não conto


Ah, eu tenho tanto que não conto
Esse meu mundo que gira tonto
Esses amores
Esses caminhos sozinhos
Essas falsas memórias
Que subjulgam a dor
Do impossível
De não ser feliz
Daquele jeito
Com Fanta
M&M’s
E risos espalhados
Cobrindo a cama e os travesseiros

E vem a saudade
Do que não se viu
O choro do querer
E sentir o insensível
Como se fosse palpável
Amar o inatingível

Passear com palavras
Para poder então
Se acalmar…

Angelo A. P. Nascimento

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Para o seu coração musicar


É, meu bem
Parece que vai chover
E eu não vou mais te ver
E não tem oração
Ou santa intercessão
Para o nosso amor que morreu
Sem saber o por quê de nascer

Sim, parece que vai esfriar
E não há por que chorar
Se não há músicas para cantar
E o meu coração já cansou
Dos programas de domingo
Sem você
E do seu nome
Que involuntariamente
Se forma nas letras da tevê

Vem cá,
Melhor,
Me deixa para lá
Não me chama mais
Pelo dia
Ao acordar
Por que posso escutar
E dói saber
Não responder

Ah, não sei se vai sentir
Esse meu dedilhar
A minha pele escorregar
Quem foi que te ensinou a rezar?
Quem disse que não era para dar?
E se a chuva trouxer você para mim?

Meu bem,
Então não vá
Me fazer chorar
Só devolve o meu pedaço em você
E eu solto a sua mão
E vou embora com a tempestade...

Angelo A. P. Nascimento

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Madrugadas



Eu me perco em insônias
Nas minhas cores de madrugadas
Nos meu quereres sabidos
Ainda que não queridos

E eu te vejo
Embora não passes
Eu te escuto
Embora te cales
E eu te chamo
Embora não ouças

E toda essa frágil farsa
É um desalento de alma
Porque ainda tenho medo do escuro
Que é viver sem sua luz

É de mim
Que todo o amor tenta partir
É em mim
Que se espreme
O que não pode se expandir

E nenhuma palavra
Nenhuma frase
Verso
Poema
Canção
Ou o desmitificado amor sincero
Foi suficiente
Para dizer que fiques
Ou para te impedir de irdes

E continuamos
Curvados nos sentidos
E sobre os anos em que tentamos voar
E continuamos
Secando em desenganos
Colecionando troféus
Contas de orgulho, tristeza e fel

Tenho tantos estilhaços
Favor recolher
Os que lhe pertencem
Pois alguns pesam
Outros cortam
Outros estranhamente me dão prazer.

Angelo A. P. Nascimento

domingo, 17 de julho de 2011

Desamor


Eu não vou responder
A essa desinfeliz ironia
Dessa roda que gira
Meio morta
E meio viva
Porque sou só eu e minha melancolia
Com os pedaços de sua incerteza
Que brigam com essa desagonia

O presente simplesmente desacontece
E as madrugadas
Com estrelas e luas murchas
Iluminam pobres
Os sonhos em que você desfila
Como o melhor erro meu

Eu te vi tantas vezes
Quando não queria
Te tive tantas outras
E jamais poderia
Desacertar esse compasso
Do amor que só morria

Olha nos meus olhos
E me diga
Qual o peso da desalegria
Porque só palavras inventadas
Para falar de uma dor
De uma vida desistida
Que se esvai
Em cada gota d’água
Da lamentação
Desse mal de amar.

Angelo A. P. Nascimento

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Giramundo


                Passar a vida numa roda viva é rotina para quem sente. Somos todo sensibilidade, milhões de receptores espalhados pelo corpo, nos dando a sensação de movimento, espaço, prazer, dor, perigo, medo, fuga, alegria. É muita coisa para processar, com tanta coisa nos bombardeando ao redor, pelos olhos, nariz, ouvidos, boca e tristemente escorregado pelas mãos.
                Aprendemos, então, a viver seletivamente. As sensações nos guiam e nos desviam e, vez ou outra, nos convencemos que aquilo sentido motiva a razão de agir. Tornamo-nos verdadeiras máquinas de amar ou odiar. Viramos tratores ou fontes infindáveis de lágrimas em posição estática. Destruímos canteiros, construímos muros e vamos vivendo, sentindo mais ou menos. Crescemos às tapas. Reagimos a tudo, cada um do seu jeito, até que o menino vira homem, o filho vira pai, o presente vira ontem e o que era para acabar parece não se esgotar mais.
                Sentir, sentir, sentir: eis um fardo que alguns talentosamente conseguem suprimir, sem, no entanto, dar-se conta que se tornam frios, confusos, distantes e, mais tarde, dormentes. A analgesia tão esperada nos é dada ao luxo, quando adultos, seja ela naturalmente esculpida pelo orgulho, ou artificialmente pelos benzodiazepínicos e anti-depressivos. Nossas tristezas medicalizadas, nossos sonhos fabricados, nossa existência em um quadro de Frida. Todos damos o nosso jeito de tudo passar e cavamos nossos fossos e criamos jacarés.  Alguns correm, outros escrevem, outros cantam, outros malham, outros se escondem até que a verdade indubitavelmente lhe assalta no meio da noite, roubando-lhe o travesseiro.
                Qual a saída? Apenas sinta... Mas isso requer coragem. Há quem diga que sentir é primitivo, irracional. Porém, eu mesmo acho que a razão é o nosso próprio abismo. Quanto mais nos agarramos a ela, mais somos engolidos e tudo mais foge da luz. Somos claramente sujeitos escuros, mas eu nasci para ser feliz. Acredito que todo mundo também. Que tenhamos a sorte de encontrar nossa própria substância. O resto é arte e alquimia...

                [O problema todo, é que você não se entende, meu bem.
E, sinceramente, nem eu me entendo também.]

Angelo A. P. Nascimento

sábado, 2 de julho de 2011

Meus pulsos


Tenho em mim palavras
Que se repetem viciosamente
Tenho lembranças
Que me distraem da realidade
Filosofias de almanaque
Nobres direitos não exercidos
Tenho sonhos
Que não se domam
Encontros
Que não se encontram
Tenho todo o amor do mundo
E princípios profundos
Que mal me deixam
Guardar-lhe nas retinas

Tenho essa briga comigo mesmo
E a enfadonha necessidade
De vozes e abraços
Tem essas letras
Esse papel
E essa caneta
Tem esses sons
Esses murmúrios
Sem destino público
Tem você
Que somente existe
Meus ombros caídos
E minhas sobrancelhas juntas

Tem tanta coisa
Todas as falhas
Todos os sentimentos
Todas as dores
E a constância
De nossas cortantes ausências

[Eis os meus pulsos...]

Angelo A. P. Nascimento
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