domingo, 18 de dezembro de 2011

Imigrante



Vísceras contraídas
Coluna dobradiça
Joelho no rosto
Lágrima fora do olho
Dor
Funda e que não finda
Sua lembrança
Dentro de mim migra...
... E machuca.

Angelo Augusto Paula do Nascimento

Meu coração paralítico

Fotografia: André Barreto

Vez ou outra
As palavras não me visitam
Deixam esse interstício
Essa aflição abafada
Um período de estranheza
Comigo mesmo

E rogo
Que tudo volte
Que essa parte afastada
Retorne à alma amputada

Por enquanto,
Meu coração paralítico...

Angelo Augusto Paula do Nascimento

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Bobeiras e outros atos


Tudo que eu queria
Era te dar um belo beijo
Um grande abraço
Sorrir para você de manhã
Roubar o queijo do seu prato
Cruzar nossos caminhos
Com seus braços fazer um laço
E enquanto almoçarmos
Esconder seus óculos
Te dar um presente:
Que não fôssemos ausentes
Viver contigo em eterno equinócio
Ter tempo para as fotos
Passear pela costa
E de repente confirmar
Seu caráter circunstelar
E te convidar para jantar
As pernas entrelaçar
Sentir seu corpo
Toda a felicidade te dar
Sem embaraços
Com muito desejo
Como sempre
De modo engraçado
Com risos, sonhos e pedidos
Hoje, em especial
Com muitas saudades
De modo discreto, sincero e delicado
Tenha um dia encantado.

Angelo Augusto Paula do Nascimento

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Angina


Angina é amor com espasmo coronário.

[Pensei curto e rápido]

Angelo Augusto Paula do Nascimento

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Só queria te contar



Eu, meu bem
Queria te contar
Umas coisas que penso
Outras que de repente esqueço
E me alivio por não falar

Faz tempo que escrevo
Mesmo sem saber porquê
Porém na métrica
O amor não me cabe
Não sou eu
Qualquer razão de ser

Eu sei
Tudo passa
E essa terra revirada
Já não brota
Nada mais que o coração mandar

É que é tudo tão pesado
As rimas
Os erros
Os acertos
E até deslocar o porta-retratos
É um trabalho que me deixa fraco

Eu me despeço
Enquanto nada mais te peço
Mas só queria contar
Que tem essa minha parte
Que é contínua em se dar

Eu vou por aqui
Talvez dirija sem parar
Talvez eu beba até cair
Ou eu faça um vexame
Por gastar tantas canetas
Nessas cartas que nunca vou entregar

Essas histórias
Sempre serão
Para outro alguém escutar
Mesmo assim
Só queria te contar.

Angelo Augusto Paula do Nascimento

sábado, 12 de novembro de 2011

Desoferecer


Me conta do fim
Das palavras que sangraram
Conta de novo
Quero escutar tudo que perdi
Enquanto parado
Não acreditava
Nas coisas que abandonávamos aqui

Não, não há compreensão
Pela sala procuro os controles
Do remoto sentimento
Que se dilui
Sem cheiro
Gosto
Ou qualquer sintoma de erro

E tudo chove
Desmancham-se as tintas
Lembranças coloridas
E de braços bem abertos
Afasto o mundo em volta

Tudo se rarefaz
Contra a minha vontade
E meu único medo
É esquecer
Que um dia tive tanto amor
Por viver tanto esse desoferecer.

Angelo Augusto Paula do Nascimento

O amor e sua translação






Beijo rostos estranhos
E me aproximo do que não sei
Sensações rotas ao próximo
Mas se cada um de nós
Voltasse
Ciranda grande
Feita a roda
Sei que tudo seria
O amor e sua translação.




Angelo Augusto Paula do Nascimento

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Carne, sentimento e poesia


Minha menina
Eu não passo de carne, sentimento e poesia
Essa vida que se desfia
Nos deixa cheios
De luas
E despedidas

É porque eu queria
Dizer-lhe muito mais
Do que toda palavra repetida
Do que toda a cotidiana alegria
Que se desfaz
Na sua ausência
Dor que não finda

Sempre há uma canção
Para seus olhos
Que tristes
Traíram meu coração
E para os meus braços
Laços cegos entremeados
Que dançam a valsa manca e dolorosa
De flores murchas
Que acompanham o vento
E recontam, pobres, as nossas histórias

Minha menina
Minha nobre criança perdida
Eu te encontrei em ruas de samba
Como o mais belo ornamento das rodas
E te perdi na mais fina melodia
Mas continuo passista
Escrevendo rimas
Só para ver você passar
Por minhas avenidas.

Angelo Augusto Paula do Nascimento

domingo, 23 de outubro de 2011

Como se o amor fosse feito de taipa


Escrevo como quem se desespera
Como garotas que esperam em janelas interioranas
Como flores baldias que crescem desodernadas
Como se o amor fosse feito de taipa

Escrevo para olhos cegos
Para o seu coração despreparado
Para amarrar sentimentos e braços

Escrevo como quem procura
O verso perdido na sala
Na cozinha
Na chaleira
Atrás das cadeiras

Escrevo por não se ler o dito
Por viver clichês
Vexames
E o coração em nudismo

Escrevo como se fosse cheio de desgraças
Como se fosse criança e não brincasse
Como se castigo consertasse
Aquilo que insisto sentir.

Angelo Augusto Paula do Nascimento

sábado, 22 de outubro de 2011

A vida entreaberta



Na cabeceira
Livros
Papel
Caneta
Nenhuma emoção
Apenas a vida entreaberta...

Angelo Augusto Paula do Nascimento

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Para onde foi?



Há tempos não consigo escrever
Meus pensamentos não param
A minha poesia
Transita na contramão
Toda a beleza
Do que não digo
Se guarda
Acumula
Aprisiona e não escapa
E sigo sem sentido
Palavras que não se juntam
Divorciadas daquilo que sinto

Guardanapos
Rascunhos
Telas
Teclados
Nada recolhe o sentimento espalhado

E para onde vai
Essa coisa
Esse eu que já não se esvai?

Para onde foi
A voz do meu coração?

Angelo Augusto Paula do Nascimento

domingo, 2 de outubro de 2011

Utopia



A partir de então
Eu seria livre
Só haveria risadas de crianças
Amanheceriam só domingos
E as cores teriam que ser renomeadas
Conforme sua emoção
Todos aprenderiam a tocar violão
Nossa velocidade, de acordo com nossa paixão

A partir de então
Nada seria para doer
Seríamos capazes de perdoar a nós mesmos
Brincaríamos todos sem medo
Morreriam o orgulho e seus senhores
Existiriam cirandas e flores
Abraços e amores
Para todos os corações

E a partir de então
Eu te encontraria de novo
Nos olharíamos com espanto e novidade
Conversaríamos milhares de amenidades
E pareceria que nos conhecíamos há anos

Veríamos o dia terminar
No reflexo do olho do outro
E você se perguntaria
Sobre nossos receios
E eu te daria um beijo na testa
Faríamos travesseiros com seus livros
E de mãos dadas
Acabaríamos por dormir

E, ao acordar,
Estaríamos ali, um para o outro
Seria domingo de novo,
Não haveria por que terminar poemas
Seria apenas
O Silêncio e sua eloquência
E não haveria por que partir...

Angelo Augusto Paula do Nascimento
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