segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Dois dedos de prosa sobre solidão

 The gift - My lovely mirror


“Não é bom que o homem esteja só” - Gênesis 2:18


Outro dia li, no blog de um amigo, um texto sobre o cultivo da solidão. Falava algo sobre auto-preservação, sobre racionalidade e inteligência, sobre o criticismo e acima de tudo, não correr o risco de parecer “papo de solteirão convicto”.

Confesso que sorri ao ler. Incrível como as experiências nos moldam e respondemos de maneira diferente a estímulos semelhantes!

De toda forma, queria dar a minha opinião sobre solidão. Para mim, ela é algo que nos amplia uma série de sentimentos. Muitos deles são de natureza triste. Não cabe essa história de nascer só e morrer só. É martelo batido e prego virado como todos nós procuramos passar a nossa vida driblando a danada da solidão e buscando sempre um par.

Cabe, sim, que nada na vida tem acerto ou garantias. Ao caminhar, percebemo-nos nos entregando em alguns bons momentos; em outros, simplesmente nos mostramos arredios, introspectivos, machucados até, evitando esbarrar com alguém que possa nos fazer sentir aquela dor que parece que não passa, quando a saudade precede a solidão.

A solidão figura como intervalos desse passo a passo que é viver. É integrante e deve, por vezes, nos forçar a uma reflexão bem no estilo “momento umbigo”, onde nos olhamos e buscamos as respostas do tudo feito impensadamente ou de caso pensado demais.

A solidão que você fala, pode ser aquela fresta do dia em que é melhor ficar só, curtir suas bobeiras e esquisitices sozinho (é... por que todo mundo tem as suas, inclusive você, e não quer contar para ninguém!) e depois poder voltar a sociabilidade.

Uma outra pode ser o isolamento, a desolação ou auto-flagelo que nos infligimos, levantando muros, afastando pessoas e ocupando-se o tempo todo em conseguir desculpas convincentes, até para si mesmo, para justificar estar só.

Essa última aí dói. Dói fisicamente e é camuflada por nossas fugas.

Deixo claro que a felicidade não está ligada a um outro alguém. Não sou tonto o bastante para fazer de meu bem-estar um refém de um estranho. Deixo mais claro, que viemos a esse mundo para sermos felizes e que, se encontramos um alguém bacana, nos tornamos mais felizes. Se esse alguém for embora, voltamos apenas a sermos felizes.

Algumas sensações estão acima do raciocínio e é nossa intelectualidade que se exalta ao admitirmos não termos controle sobre toda a nossa intimidade sentimental. Precisamos dessa “falha nos freios”, vez ou outra, para que possamos nos sentir vivos.

Se tem uma coisa que a idade não ensina, é maturidade. Essa está ligada diretamente às experiências que vivenciamos. Não há manuais para viver. Só se aprende a viver, vivendo. Essa é uma máxima piegas clássica e real.

Nunca saberemos se tudo está dando realmente certo ou não, se não seguirmos classificando as sensações em boas ou ruins. Caímos na velha história do namoro de dois anos que acabou... Ele deu certo, por dois anos, mas deu certo ali, naquele espaço de tempo.

Uma coisa é certa: solidão é fase, não um lugar para morar. Ela é necessária para reelaborar a maneira de caminhar, mas fazer dela um ninho não é uma decisão muito sábia. Ela é um costume que perdemos, quando nos permitimos.

É preciso correr riscos, pois a vida é cheia de possibilidades!

Não estou minorizando o sofrer, apenas aceitando-o como parte de tudo.

E, para ser o mais sincero possível e com um pouco de humor, não nascemos sós. Tinha uma galera na sala da maternidade te ajudando a sair, te apoiando. Tinha mais um monte de gente lá fora, na expectativa de você chegar. Você está crescendo cheio de pessoas ao seu redor e, por mais que você goste de tomar banho sozinho ou de não dormir agarrado, tem uma hora que você cede, vai para aquela festinha e rola umas paquerinhas e tchan!!!!

Quanto a morrer só, isso não é via de regra. Há acidentes coletivos...

Chegando ao fim desse momento filosófico tosco, peço desculpas à senhora solidão, se fui rude. Seja sempre bem-vinda, toda vez que houver a necessidade de bater aquela real. Curto mesmo é ser feliz e, se temos a sorte de encontrar alguém bacana, melhor ainda.

Se já me torei no meio do caminho? Claro! Chorei as pitangas, as lágrimas e acho que até sangue. Mas sobrevivi, passei por meu luto e estou de novo na vida!

Espero encontrar vocês por aqui também.

É um ótimo lugar para estar.

Angelo A. P. Nascimento

sábado, 23 de janeiro de 2010

Taquicardia

Olho tudo em volta
A aridez do dia
O calor frenético dos passos
Os pombos que arrulham por lá

Aqui
Meu coração segue quebrado
Como se as rotações fossem brutas
Na translação do nosso amor taquicárdico


Sentado
Observo aquilo que passa transeunte
As estrelas que aparecem em alguma hora
No fim de tarde
Na noite que se demora

Pirilampos
Cheiro de chuva que abafa
Um espaço aqui ao lado
As cores que se misturam em você

Apenas
Forçosamente mantenho os olhos fechados
Escuto as músicas que se aventuram rotas
Pela escadaria de minhas ouças

Faço
Uma prece pedindo por paz nas tragédias
Que tudo não se perca pelas sensações insensatas
Que a vida desacelere para todos e clame calma

Sozinho
Busco entender um pouco de tudo
Solucionar certos litígios do mundo
E manter o coração sob controle

(Até hoje você o mantém aos pulos)

Angelo A. P. Nascimento

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Mormaço de beijo branco

Terá sempre
Essa morbidez fluida
Teu olhar laranja das coisas
Que emociona e transfigura a criação complexa

Será sempre
Um misto de constâncias e surpresas
A forma que chega e te deitas
Na cotidiana hora de dormir

Quiçá
Sempre
Sempre
Esse mormaço de beijo branco
Em meu corpo castanho.

Angelo A. P. Nascimento

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Eu não entendo

Eu não entendo
Não entendo bem
Como pode haver amor perfeito
Dentro das imperfeitas coisas que você tem
Eu não compreendo a despretensão do tempo
O laço do hábito
E a amarra do cheiro de seus cabelos

Eu não percebo
Apenas me vejo
Agarrado a tudo que você faz
Como se eu lesse os seus olhos
Sem ter aprendido em canto algum
Esse alfabeto íntimo

Eu não creio como você me fala tanto
Com seus irritantes erros humanos
Apenas se movendo
Com seu jeito divino de sono
Carregando um ar de criança
Que me desarma
E retira essa necessidade de saber os porquês do resto do mundo

Mas se não entendo
Não tem problema
Você está aqui.

Angelo A. P. Nascimento
Related Posts with Thumbnails