terça-feira, 20 de outubro de 2009

Sonhos

Eu saí
Eu perdi de mim
O que só era tranqüilidade

Eu vi e passeei por nossas dores
Eu busquei a luz de nossas flores
Eu não sei quanto de nós se dispersou

Abra os olhos
Tem muito de mim
Espalhado pelos cantos
Tem todas as vogais num murmúrio de canto de boca
Em todas as conversas que ora procuramos silenciar

Perto de meu peito
Cultivei sonhos de nova brisa
Com janela aberta
E cheiro de laranjeira

Era você que estava lá o tempo todo
Cruzando minhas vistas na velocidade de bicicletas
Distribuindo mais risos
Que ladeavam toda a casa

Era você,
Que no meio de sua vacilante alegria
Pendurava-se insistentemente
Em meu coração.
Angelo A. P. Nascimento

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Sobre uma parte de mim

Eu só abri
Eu só me expus
Esse pedaço de mim aí
À mostra

Essa parte que me faz tão bonito
Essa outra parte que lhe deixa à parte de tudo

Pega essas coisas
Esse arrumado de sentimentos
Que você colocou aqui
Faz alguma coisa com eles
Leva para algum lugar qualquer fora de mim
Me tira desse meio perdido
Me guia
Me desafoga

Que faço da mesa posta?
Não sei nem do seu cheiro
Diga-me à que horas tudo se resolve
Diga-me
Ou não me diga

Apenas beije-me.

Angelo A. P. Nascimento

sábado, 10 de outubro de 2009

Hoje

Hoje,
Não há idéias sobre o nada
Somente o meu corpo deitado
Meu olhar verticalizado
E uma constelação de fragmentos
Do teu agora vazio.

Hoje,
As rádios não tocam qualquer boa música
Não brotam boas poesias
E não vamos comer pastéis.

Hoje,
O mar de azul está cinza
Não há para quem pronunciar o seu nome
É imposssível escutar o timbre de suas vogais.

Hoje,
Procuro o teu peso e o entrelace,
Cadê o meu apelido que só você sabe?
Cadê o teu conforto de fim de tarde?

Hoje,
Cai a espada e volto a ser príncipe
Sou normal, humano e choro,
Mas você está fazendo a coisa certa...

Angelo A. P. Nascimento
(19 de fevereiro de 2002)

Música para surdos

Sei que sem você
Não faço música
Crio acordes soltos
De vida lúdica.

Tua presença
É o sentido
É o que norteia
A orquestra que compõe
Sinfonias que louvam
Os teus gestos,
A tua vida.

Sei que sem você
Não faço música
Tudo se resume
A sons surdos
Cantados por um coral
De mudos...

Angelo A. P. Nascimento
(24 de janeiro de 2001)

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Final Feliz

Não sei como terminar histórias de amor
Digno-me a escrevê-las em início
Digno-me a realçá-las em seu decurso
Mas não sou romancista
Não sou especializado nos bons finais felizes
Creio que cabe aos outros o escrever do fim
Por que eu apaixonado
Por mim viveria em livre curso
De livro-amor eterno.

E sempre terminam assim:
Destroços salpicados de sobras de nós
Regados de momentos lacrimogênicos
Que invertem boas lembranças
Em recordações torturantes.

Como eu queria descrever por completo
As sinetésicas paixões
Impassíveis de serem relatadas
E poder congelar, mesmo que em palavras
A magia dos dedos enlaçados
E o único gosto dos lábios que se tocam
E descobrir na carteira a foto três por quatro
Que desencadeia verdadeiros sorrisos satisfeitos
O encontro de olhares sinceros
Os gestos que não ficaram perdidos
Resumir tudo isso no colo
E chamar de amor mais do que correspondido
Um amor perene
Um amor vivido
Um amor macio
Aquele mesmo das mãos trêmulas
Aquelo mesmo das cartas
Que nunca sonhávamos em escrever
Aquele mesmo que nos coloca nas músicas que escutamos
Que termina cada capítulo
Com o mais tranquilo adormecer
Aquele mesmo que rouba flores dos canteiros
Antes dos ansiados encontros
Aquele mesmo que queremos para sempre
Aquele mesmo amor que habita os perfeitos fins
Aquele mesmo amor que parece não ter fim
Aquele mesmo amor das noites de lua (que não precisa ser cheia)
Aquele mesmo amor que nos motiva
Este mesmo amor que não deixa que eu termine esse poema
Que não dá verso
Que não dá rima
Que dá vida
Que simplesmente é
No final
O amor.

Angelo A. P. Nascimento
(11 de maio de 2001)
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